sábado, 5 de setembro de 2020

A Cruz da Pestilência de Belém (5 de setembro de 1494) e a iniciativa de Pandemias e História

Faz hoje 526 anos que João II (r. 1481-1495), encontrando-se em Sintra, deu ordem régia ao município de Lisboa para que construísse, em Belém, uma estrutura de prevenção contra a entrada de doenças infecciosas (o documento pode ser consultado em João Silva Marques (ed.), Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1988, vol. 3, p. 459, doc. 299).

O objetivo destas construções era muito simples: sabendo que tanto os portugueses como os estrangeiros chegavam por mar de "lugares perigosos em que morrem de pestilência", e receando o "muito dano e dolo e perigo" que a doença poderia provocar, ordenou que se fizessem duas obras.

A primeira era uma cruz de pedra grande, em Santa Maria de Belém, "para que as naus que vierem de lugares perigosos não passarem da marca da cruz". E ordenou que se construísse um alpendre "no topo de uns pardieiros" para "assoalharem suas mercadorias e se recolherem neste alpendre".

Perante a pandemia de Covid-19, as nossas cruzes de pedra são as sinaléticas com a obrigatoriedade de se usar máscara e desinfetar mãos, que encontramos um pouco por todo o lado. E os alpendres talvez sejam os aeroportos, que, consoante o destino, continuam a impor certas restrições à liberdade de movimento dos cidadãos. Mas a forma mais moderna de se procurar controlar quem esteve em "lugares perigosos" talvez seja a nova app StayAway Covid, que pretende avisar os cidadãos se estiveram na proximidade de alguém infetado com o novo coronavírus.

Seis meses depois do entrada do SARS-CoV-2 em Portugal, ainda persistem as incertezas quanto ao presente (Será seguro viajar? Será seguro ir para a escola? Será seguro andar de transporte público? Será seguro ir a um festival de música ao ar livre?) e, sobretudo, em relação ao futuro (Será que as vacinas irão funcionar? Poderá a economia aguentar os constrangimentos ditados pela Covid-19? Serão os apoios europeus suficientes para resgatar a economia nacional? Será que a pandemia irá provocar uma ascensão do populismo, enfraquecendo os regimes democráticos?).

Por esse motivo, a iniciativa Pandemias e História na Era da Covid-19 continuará a efetuar o seu trabalho de entrevistar especialistas nas mais diversas áreas do saber: não em busca de respostas imediatas para os nossos problemas atuais, mas de uma perspetiva histórica que nos permita compreender as soluções que poderemos adotar.

O enfoque destas entrevistas irá ser alargado para a área da cultura e da literatura, através da colaboração da investigadora Sofia de Melo Araújo. Em breve haverá mais novidades.



terça-feira, 30 de junho de 2020

Amélia Polónia (CITCEM, U. Porto): Surtos epidemiológicos em espaços ultramarinos

Que relação existiu entre as viagens e os surtos epidémicos? Que doenças é que os europeus transportaram para os novos mundos, e quais é que encontraram nesses territórios ultramarinos? Que caminhos de investigação historiográfica ainda estão por trilhar?

 A minha convidada de hoje é Amélia Polónia, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e atual coordenadora científica do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória. Especialista em História da Expansão Ultramarina Portuguesa e História da Colonização Europeia, é reconhecida pelos seus trabalhos nos domínios dos Estudos Coloniais, História Portuária e de Estudos de Género. Foi-lhe, recentemente, atribuído o título de Doutora Honoris Causa pela Université Bretagne Sud. E irá participar nesta iniciativa para falar sobre "Surtos epidemiológicos em espaços ultramarinos".


terça-feira, 9 de junho de 2020

Ana Abecasis (IHMT–UNL): A outra pandemia: o VIH/SIDA

Considerada pelos especialistas como uma das grandes pandemias dos nossos tempos, o que é que sabemos sobre as origens do VIH/SIDA? Poderão os cientistas, a curto prazo, conseguir vencer a competição contra esta doença? E que efeitos tem a Covid-19 nas pessoas portadoras do vírus da imunodeficiência humana?

A resposta a estas e outras questões é dada por Ana Abecasis, atualmente diretora da unidade de saúde pública internacional e bioestatística do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, que se entrevistou sobre “A outra pandemia: o VIH/SIDA”.


sábado, 6 de junho de 2020

"O Poder nos Tempos da Peste" de Mário Jorge da Motta Bastos

Fui contactado, recentemente, por Mário Jorge da Motta Bastos (professor de história na Universidade Federal Fluminense, no Brasil) sobre o seu livro O Poder nos Tempos da Peste (Portugal – séculos XIV-XVI). O livro divide-se em em duas partes (1. A Peste no Ocidente: o mal inscrito na longa duração; 2. O rei físico e a saúde no reino) e percorre vários aspetos relacionados com a pandemia de Yersinia Pestis em território português, as interpretações religiosas e culturais à doença, o discurso das autoridades, e a relação entre a peste e o poder régio.
Mário Jorge da Motta Bastos (2009), O Poder no Tempo da Peste. (Portugal - Séculos XIV/XVI). Niterói: Universidade Federal Fluminense.
Encontrando-se em acesso aberto, a obra poderá ser descarregada em formato PDF para quem quiser ler e conhecer melhor o tema.

Boas leituras.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Amélia Aguiar Andrade (IEM, FCSH-NOVA): Os espaços urbanos portugueses medievais perante as pandemias"

Que pandemias afetaram os espaços urbanos portugueses durante a Idade Média? De que forma é que essas doenças se propagaram e que medidas foram adotadas pelas autoridades municipais? Que consequências sociais e políticas advieram desses surtos epidemiológicos?

A convidada de hoje é Amélia Aguiar Andrade, professora catedrática de história medieval na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Instituto de Estudos Medievais. É especialista em história urbana, económica e marítima, e irá falar-nos sobre “Os espaços urbanos portugueses medievais perante as pandemias”.


terça-feira, 19 de maio de 2020

Maria Antónia Pires de Almeida (CIES–IUL): A Cólera em Portugal no Século XIX

Qual é o contexto da entrada da cólera em Portugal? Quantos surtos é que houve e que regiões de Portugal é que afetou? Qual foi a resposta das autoridades de saúde? E de que forma é que a doença foi analisada pela imprensa nacional?

Para nos falar sobre a cólera em Portugal, convidei Maria Antónia Pires de Almeida. É investigadora integrada no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa.

Por dificuldade no acesso à internet na região em que se encontra, esta entrevista foi efetuada por telefone. O ficheiro áudio estará disponível no canal YouTube do CITCEM, assim como na Casa Comum da Universidade do Porto em formato podcast.



segunda-feira, 18 de maio de 2020

Ana Rita Rocha (IEM, FCSH-NOVA): A Lepra em Portugal durante a Idade Média

O que é a lepra, qual é a sua origem e que caraterísticas é que tem? Qual é a origem desta doença que, na década de 1980, ainda afetava mais de 5 milhões de pessoas todos os anos? De que forma era tratada e em que instituições? Qual foi o grande legado que o surto de lepra deixou na nossa sociedade?

Estas e outras questões são respondidas por Ana Rita Rocha (IEM, FCSH-NOVA), que é doutora em história pela Universidade de Coimbra e é, atualmente, investigadora no Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.